Grande Amigo

Ei, grande amigo,

Aqui estamos de novo!

Você de mãos dadas comigo

Caminhando em direção ao sol,

Como se o tempo não tivesse corrido,

Como se não tivessem se apagado as luzes do farol.

Ei, alma amiga,

Aqui vamos nós de novo,

No decorrer lento das eras

Cruzar novamente nossos caminhos,

Como se não nos importássemos com a espera,

Como se não quiséssemos mais prosseguir sozinhos.

Ei, espírito companheiro,

Aqui estamos de novo.

É um tanto surpreendente te rever,

Estar contigo novamente,

Como se parássemos no tempo sem perceber,

Como se pudéssemos viver este momento seguidamente.

Ei, alma afim,

Aqui vamos nós de novo

Descobrir as delícias da vida,

Deixar-se levar por essa corrente,

Como se jamais houvesse despedida,

Como se jamais tivéssemos ficado ausentes.

Ei, grande companheiro,

Aqui vamos nós novamente!

Juntos, trilhando o caminho,

As mãos entrelaçadas com carinho,

Como se não nos preocupássemos com o amanhã,

Como se tivéssemos certeza do eternamente.

Ampulheta

A areia onde finco meus pés

Suave se move e se ajeita,

Como o tempo deslizando

Pelas curvas de uma ampulheta.

O presente escorrega devagar,

Tão lento e suave

Que quase não vejo passar.

Aos poucos seus grãos

Deixam-se cair e sem querer

Transformar-se em passado.

Nas areias que caíram

Vejo tudo que fui.

Ruínas de templos que sucumbiram,

Dentro dos quais adorei

Todos os deuses que amei.

Gárgolas e anjos esculpidos

Misturam-se num mar de ações

Sempre tão sem sentido.

Tudo que eu era ruiu

Misturou-se a areia do tempo.

Veio a ampulheta

E depois o vento.

Pleno deserto se encontra o infinito

Enquanto os grãos de minha vida

Deslizam descompassados

Em meu presente

Escorregando para o passado.

Menina

Talvez ela seja só uma menina

Vestindo um corpo de mulher.

Sem perceber o que acontece

Não se dá conta do que quer.

Tão cheia de sonhos,

Nem percebe que é hora de realizar,

Se sente ainda tão criança,

Não viu o tempo passar.

Talvez ela seja só uma menina

E ainda não entenda o mundo.

Olha para toda essa confusão

E não sabe onde se encaixar.

Tão presa em sua emoção

Nem pensa em se libertar.

Seu mundo é tão mais bonito

E ela não vê o tempo passar.

Talvez ela prefira ser só uma menina

E não se envolver com a humanidade,

Se manter longe de toda essa loucura

E fingir sua sanidade.

Tão acomodada em sua moldura,

Ela observa tudo que acontece,

Mas prefere ser como uma pintura,

Ela entende, mas já não se aborrece.

Talvez ela faça sua própria realidade

E tenha desistido de compreender.

Sabe que nem tudo que dizem é verdade,

Que não adianta procurar saber.

Entende que o mundo continua a girar,

Mas é senhora de seu destino

E ela prefere não ver o tempo passar.

Visões da Vida

Hoje, talvez, eu enxergue mais a vida.

Me recuso a crescer,

Mas aos poucos percebo

Que, mesmo sem querer,

Já não sou mais aquela criança.

Percebo que a vida se apresenta

Rápida, sem máscaras e desenfreada.

E eu tão cheia de ganância,

Me vejo sozinha e enganada,

Pois há dias em que perco as esperanças

Ao ver quão sem sentido

É a vida em que estamos perdidos.

Hoje, talvez, eu enxergue mais a vida.

Me pesa agora a responsabilidade.

E aos poucos percebo,

Com grande espanto e naturalidade,

Que já não sou mais inocente.

Percebo que a humanidade se ostenta

Corrosiva, impiedosa e incoerente.

E eu tão cheia de sonhos e ilusões

Preciso libertar a minha mente,

Pois sua influência é tão grande

Que quase não conseguimos ver

Quão ridícula é a vida e os conceitos

Aos quais estamos sujeitos.

Hoje, talvez, eu enxergue mais a vida.

Me entristece perceber

Que, pouco a pouco, vejo

O mundo se desvanecer.

E eu preciso fazer alguma coisa,

Pois já não há mais espaço

Pra essa vida que se apresenta

Falha, moldada e ignorante.

O futuro é importante

E precisa ser mudado.

Já não há mais como viver

Nessa ilusão em que estamos aprisionados.

Decisões

O mundo gira sem parar,

Sol e Lua em seu eterno revezar.

Vidas pequenas e sem sentido

Se desenrolam devagar.

Perdidas em caminhos insípidos,

Muitas vezes querem voltar,

Mas apesar de o tempo ser relativo

Não há como caminhar para trás.

O relógio que até parece estar vivo

Não se dá conta do que faz.

Tiquetaqueando sem interrupção

Não nos deixa refletir,

Ele cumpre sua sórdida missão,

Seus ponteiros continuam a prosseguir.

Da engrenagem do tempo

Não há como escapar,

Por mais que se queira,

Não há como voltar.

Porém, seu amanhã é escolhido todos os dias.

Levante e não olhe para trás.

Caminhe, plante seus frutos e colha,

Sua vida depende de suas decisões
E nada mais.

Décimo Terceiro Andar

Nos mistérios da vida

Todos se perdem e se procuram.

Cada um em seu caminho,

Não seguem sozinhos,

Tampouco se misturam.

E no enxame da vida

Sempre se traz à vida mais alguém,

Inúmeros, incontáveis seres.

Sete bilhões vindo e aumentando,

Se procurando e vivendo

Tão enlouquecidamente,

Que não se dão conta

Do que realmente está acontecendo.

Enclausurada no décimo terceiro andar

Vejo como a humanidade

Se expandiu para o mundo.

Uns em cima de outros,

Se empilhando como defuntos

Em torres de concreto sem graça

Que se seguem infinitamente.

Como podem achar que esta miséria,

Estes barracos e construções

Que não cessam de avançar,

São melhores e mais dignos

Do que a natureza que a eternidade

Faz questão de nos presentear?

Por favor, voltem o mundo!

Basta! Parem o progresso!
Me tirem do décimo terceiro andar!

O Presente é Uma Mentira

O presente é uma mentira

Que teima em se apresentar,

Mas no segundo em que acontece,

Ele já passa,

Continua a se transformar.

Futuro se tornando passado,

Assim que o presente chega para se anunciar.

E tudo aquilo que sonhamos,

E tudo aquilo que fizemos,

Não são mais que águas passadas,

Algo que não pode ser mudado

No curso da vida desenfreada.

E tudo aquilo que queremos,

E tudo aquilo que quisermos ser,

Vêm como sombras distorcidas,

Acontecimentos inesperados,

Enquanto seu futuro se transforma em passado,

Pois o presente é uma mentira

E o futuro não pára de chegar.

No curso dessa vida enlouquecida,

Nossa única distração é sonhar.